Luso-Poemas
 
Sonetos : 

Geadas e miséria

 
Tags:  misÉria    geadas    1953    1963    1962    1955  
 
Open in new window


Geadas e miséria

Nestes dias de geadas e tão frios
Começo a recordar dos percalços
Quando as geadas feriam os brios
E nos deixavam quase descalços

A geada vinha e matava o cafezal
Ai gente só comia o que plantava
Vivendo na miséria quase infernal
Dinheiro nunca tinha, não sobrava

Assim ocorreu em cinquenta e três
E, em cinquenta e cinco, outra vez
Que o café pra florar se preparava

Repetiu-se isso em sessenta e dois
E logo um ano dessa geada, depois
Outra, todo o nosso café acabava.

jmd/Maringá, 26.07.13

O meu pai comprou um sítio aqui na região de Maringá, plantou quase sete mil pés de café e quando o cafezal se preparava para dar a primeira florada, isso em 1953, veio a geada e brotou no tronco. Em 1955 quando o cafezal já se preparava para dar outra florada veio uma geada ainda mais forte e mais de cinquenta por cento da lavoura morreu de raiz, tendo que ser replantada. Em 1959 deu uma pequena safra de 60 sacas por mil pés, mas só frutificou os pés que não foram replantados por ocasião da geada de 1955. Em 1960 e 1961 a safra foi pequena, não motivos de geadas mas por ventos frios que prejudicaram a florada nestes anos. Em 1962 deu-se uma colheita boa, com aproximadamente 200 sacas por mil pés (em coco) mas neste mesmo ano deu uma forte geada em junho matando 80 por cento dos cafeeiros e repetiu-se em 1963, matando a lavoura de café totalmente. Em 1966 saiu um plano do Governo para erradicação dos cafezais, aí meu pai erradicou a lavoura. Nestes anos passamos muitas dificuldades não tendo dinheiro sequer para comprar sapatos Eu estudei de 1960 a 1964, andando a pé e descalço quatro quilômetros de ida e outro tanto na volta.
A lavoura branca era mais para o sustento da família e pouco se vendia. O café representava 80% da renda familiar, daí a nossa grande dificuldade financeira.

verde

 
Autor
João Marino Delize
Autor
Textos deste autorMais textos
Rss do autorRss do autor
EstatísticasEstatísticas
 
Texto
Data
Leituras
1675
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
Enviar este texto a um amigoEnviar
Imprimir este textoImprimir
Salvar este texto como PDFCriar um pdf
4 pontos
4
0
0
Recentes
Três beijos
Sorte
Gentileza
Anoitecer
Quem eu quero não me quer
Aleatórios
Espelho da vida
Luxúria
Outros mundos
A ditadura do capitalismo
Cachaça
Favoritos
MANSUETO
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Onde_está_o_@mor?
Publicado: 26/07/2013 19:56  Atualizado: 26/07/2013 19:56
Membro de honra
Usuário desde: 25/05/2013
Localidade: Funcheira
Mensagens: 738
 Re: Geadas e miséria
Aqui na Funcheira o café nã acaba porque a tasca está sempre aberta até ao domingo. Mas a geada ás vezes queima-me a horta.
Abraço

Enviado por Tópico
velhopescador
Publicado: 26/07/2013 21:33  Atualizado: 26/07/2013 21:33
Colaborador
Usuário desde: 01/03/2013
Localidade: Marília-SP Brasil
Mensagens: 1092
 Re: Geadas e miséria
Olá, amigo Poeta

E a vida, assim, prossegue.
Um dia no prejuízo, outro também, logo mais a fartura.
E os caráteres vão sendo moldados, as pessoas vão se formando, aprendendo a lutar e a perder de vez em quando, sem nunca desistir.
As que desistiram, não seriam felizes se ali permanecessem.

Abraço
><>

Enviado por Tópico
velhopescador
Publicado: 26/07/2013 21:33  Atualizado: 26/07/2013 21:35
Colaborador
Usuário desde: 01/03/2013
Localidade: Marília-SP Brasil
Mensagens: 1092
 Re: Geadas e miséria
...

Enviado por Tópico
umero
Publicado: 26/07/2013 21:41  Atualizado: 26/07/2013 21:41
Da casa!
Usuário desde: 19/04/2010
Localidade: São José dos Campos-SP
Mensagens: 385
 Re: Geadas e miséria
Esse cara sempre fala "Aqui na Funcheira"... Que engraçado!

(e o que será tasca no português do Brasil)

Links patrocinados

Páginas em

Páginas sobre