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CONTO DE AREIA E MAR- CAPT 3

 
CONTO DE AREIA E MAR- CAPT 3
 
Conto De Areia & Mar- CAPT 3


Irina soube pelo quitandeiro, que Gaston precisava mesmo de arrumadeira, já que ninguém parava em sua casa como serviçal, pois pelo seu comportamento estranho, tinham medo dele.
Dizia-se que ele invejava o tio famoso também.
Isso deixou Irina mais intrigada com o perfil psicológico de Gaston...
Agora mesmo que ela seria a mais nova candidata à arrumadeira em sua casa.

Foi até a residência indicada no papel pela viúva Ághata, e bateu à porta.
Um homem vestido com uma casaca num tom cinza opaco veio atender-lhe:

_ Sim, o que deseja minha jovem?
_ Soube que aqui precisam de uma arrumadeira... Sou nova nessa localidade, mas gostaria de empregar-me aqui em Nantes, para poder me sustentar. Isso se faz necessário, pois não tenho mais os meus pais comigo.
_ Bem se o caso é esse, a vaga é sua. Pode começar já. Minha casa precisa de boa arrumação, principalmente na biblioteca, onde os livros estão muito empoeirados. Entre para tratarmos de tudo.

Irina seguiu pelo vestíbulo de entrada, que deu diretamente numa sala bem ampla, de sancas desenhadas no teto, quadros de pintores franceses em todas as paredes e poltronas de madeira com assento de veludo vermelho, combinando com o tapete de mesma cor. Em um canto, havia também uma mesa pequena de formato redondo, com apenas uma cadeira e um jarro com flores murchas e despencadas do ramalhete sobre uma toalha branca, muito bem bordada.
Ele mostrou uma das poltronas para que ela se sentasse. Irina entretanto, permaneceu de pé.
Disse-lhe então:
_ Senhor, estou bem aqui. Serei sua empregada, guardemos as formalidades. Se assim não fosse, tomaria assento. Meu nome é Irina, sei que o senhor se chama Gaston. Tenho 17 anos, fazendo 18 em breve. Agora, poderia dizer-me quanto pagaria?
_ Bem, se prefere assim... Noto que mesmo jovem, é bem centrada em suas ações. Tem atitude, gosto disso! Quanto ao pagamento, que tal dizer-me seu preço?
_ Não gosto deste termo. Mas que seja pelo menos o que pagava aos que vieram antes de mim.
_ Muito bem, será dessa maneira. E um bônus extra, por sua atitude. Pode começar já. Preciso que venha três vezes na semana: Segundas, quartas e sextas feiras. Está certo assim?
_ Sim, dessa forma terei folga, para escrever meus artigos e contos...
_ Ah, a jovem escreve?
_ Sim, gosto de escrever tanto quanto de ler. Sei que o senhor é sobrinho do grande autor Julio Verne. Parabéns por ter uma pessoa ilustre na família!

Irina fizera de propósito esse comentário, pois queria ver qual seria a reação do homem.
Ele rodeou-a e disse:
_ Não veio aqui pelo emprego; veio para saber da carreira do meu tio? Talvez, levar algo de sua autoria para que ele lesse?
_ De forma alguma, senhor. Apenas fiz um comentário. Preciso mesmo desse emprego, pois como iria sustentar-me?
_ Não me engane, mocinha... Mas alguém que lhe sustente não seria difícil, não é feia... Hummm, deixe estar, de qualquer forma preciso de arrumadeira e você de um emprego... Comece por onde lhe disse:
A biblioteca. Na segunda porta, embaixo da escada, encontrará todo material necessário para limpeza e arrumação: óleo de peroba, espanador, flanela, essas coisas...

Irina ficou contrariada com o comentário que ele fizera, insinuando que poderia vender-se para ter sustento, porém precisava mesmo arrumar dinheiro e tentou ignorar isso, respondendo:
_ Obrigada pela chance senhor Gaston.

Ele assentiu com a cabeça e saiu para seu escritório por uma porta de acesso na sala.
Irina tratou de pegar as coisas para começar seu primeiro dia de trabalho pago na vida.
No interior, com a vida simples, nunca precisara fazer isso, pois tinha tudo em um só lugar:
Alimentação, moradia, roupas que ela e a mãe confeccionavam e sapatos que o pai trazia do artesão que fazia por encomenda.
O pai trazia o sustento da família com a venda das compotas de frutas que levava para o mercado e o queijo feito com o leite das cabras. Irina nunca precisara de mais nada além disso, exceto dos livros.
Esses, eram comprados sempre que os pais a levavam à Angers.

Quando seus pais morreram vítimas da varíola (que ela incrivelmente não pegou , mesmo cuidando deles), ela vendeu todas as galinhas e cabras, exceto a Noely, que era de estimação. Dessa forma, conseguiu um bom dinheiro para seguir com os planos de viagem:
Comprar o que fosse necessário, quando chegasse ao local que iria se estabelecer, além de pagar o aluguel.
Quando decidira ir embora para perto do litoral, deixou sua cabra aos cuidados de seu amigo de infância, Jean Pierre.


No final da tarde, Irina chegou em casa cansada mas, satisfeita:
Dera mais um passo para ter seus sonhos realizados, e em breve, estaria conhecendo o senhor Julio Verne, com certeza.
Jogou a roupa sobre a cama, tomou um banho e vestiu novamente sua camisola leve e transparente, jogando o robe azul que fora de sua mãe, por cima do biombo (que já havia na casa, ao alugá-la):
Mesmo tendo acabado de tomar seu banho, sentia um calor subindo e não sabia o porquê...

Continua...

Fátima Abreu
 
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