Eu caro amigo
Sou mais vizinho do poeta dos montes
Mão de menino cativada com pedras
De polimento macio como a casca
Que os pêssegos esfregam em nós
Olhos atados ao sopro da tarde
Sonhando vasas de razão
Aprovações e acenos de pastores
De rebanhos de crianças
Que esperam a vez de lidar
Eu caro amigo
Que conheço as vendas de trás
E lá deixei recolhidas as moedas dos avós
Recados simples pelo trajecto doce
Do roteiro das chicletes Gorila
E depois havia o serrim da serração
A larga estrada de alcatrão de antecâmara
O chiar do carrinho de mão do avô
E as pernas de coelho estiradas e tensas
Da morte que a avó prometia.
Eu caro amigo
Que fui cúmplice de matanças domésticas
Não deixei de chorar meus peões destroçados
Mas apertei sempre o baraço
Desenhei círculos na terra, marquei golos de bico
Molhei a roupa interior e esverdeei os joelhos
Comprei gel, fiz flexões e bebi sem sede
E tudo na sombra dos livros meu caro!
E quão bonito fluiu tudo isto!
Pai, meu querido, obrigado.