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Eis-me perto de ti, somos artefatos
embriagados por um reles vinho tinto tragado,
numa taberna escura, algures
nesse tempo interminável, sem regressos,
sem esquecimentos,
apenas o som de um piano,
apenas as sombras que se movimentavam, perdidas,
e depois,
o cheiro da maresia que se misturava,
o mar quebrava amuradas,
as sombras escondiam-se pelos cantos,
o silêncio deixava de existir
pelos corpos que se roçavam, disputavam
cada poro.
Repudiava-se o tempo perdido do vómito
inundando o olhar,
quão anjo quanto inverno teimando em ficar,
renunciava-se à alvorada longínqua
que se entranhava pela noite sem permissão,
e depois,
a tatuagem eternizava-se,
qual cor negra dos cavalos frísios,
tanto o mar que quebrava amuradas,
em apoteose.
Eis-nos extasiados pelas longitudes daquelas madrugadas em que ficávamos olhando o suave espreguiçar das orquídeas em flor. Apenas.
(Ricardo Pocinho)