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Cotidianos de uma doença urbana

 
Eu queria vir lhe falar, o que é que há entre nós
Mas você percebeu, no relógio viu tempo o passar
Embora andássemos sozinhos, nunca estivemos sós
Pois meu grande amor, com você sempre pude contar...
~
Então veja no horizonte, o sol ainda não despontou
Mas o trabalho chama, e nos faz pular cedo da cama
E a sina de um brasileiro que ainda não se cansou
E pelo Brasil, sempre as lágrimas derrama...
~
Vejo pelas ruas, a pobreza das condições humanas
Quem é que consegue ver isso, e ser um pouco racional?
Prefiro não pensar, sei que isso é uma doença urbana
Afeta pretos, brancos, amarelos, a mistura multirracial...
~
Vejo as pessoas no morro descendo a ladeira
Rostos cansados revelam toda a dor que esse povo sente
Mas carregam consigo esperanças tão verdadeiras
Ser feliz nessas condições, até parece ser incoerente...
~
O avião cruza sobre nossas cabeças como uma luz
Quantos olhos lhe observam, queriam poder também voar
É o desejo que poucos alcançam, mais ao menino seduz
Pois em seu brinquedo, ele pensa que o céu pode tocar...
~
Vejo as casas de tolerâncias, elas vendem o proibido
Bebidas e mulheres, que tem quase o mesmo valor
A vergonha de pecar, a desgraça tem lhe perseguido
Mas não os incrimino, pois a vida lhes ensina na dor...
~
E também vejo as prisões e seus prisioneiros
Os carros nas ruas, os ônibus nos corredores
Há poucos homens ricos, mas muitos sem dinheiro
E o céu está nebuloso, num cinza que apaga as cores...
~
Eu quero a luta, mas não quero a guerra meu Deus
Mas eu sei que o pão é a arma de um trabalhador
Os sonhos deles, quase que se misturam aos meus
Relações utópicas, irmãos de sonhos, mais um sonhador...
~
E o que é que há entre nós, nós precisamos revelar
Pois nesses cotidianos, sofremos destas doenças urbanas
Esquecemos assim de admirar a flor, até mesmo de amar
Tudo passa diante aos olhos nesta nessa vida doidivanas...
~
Mas graças a Deus você existe, e assim tenho conforto
O dia vai passando lentamente, as horas parecem parar
E bete o sinal da saída, e de cansaço estou quase morto
Mas renova-se a força para correr, para poder lhe reencontrar...
~
E novamente os sinais, as buzinas, o ônibus lotado
À volta para casa, ruas escurecem, postes se acendem
Mas os olhos pela janela, insistem em não deixar de lado
A penúria que me faz sofrer, e aos meus olhos não mentem...
~
Porque olho ao morro, barracos coloridos, paredes sem reboco
Mas as crianças ainda brincam, e um dia serão homens
Os fantasmas exorcizam, como a visão de um bêbado louco
Eu já não sou mais o mesmo, estas realidades me consomem...
~
E no meio de tantos sufocos, ainda nota-se muitos sorrisos
Mas eu estou quase chegando em casa, até sinto teu perfume
Que vem espessando-se de vida, e fala de amor tão conciso
Então clareia meu caminho, faz-me seguir teu lume...
~
E assim que adentro meu lar, o seu beijo me abençoa
Mas a fome castiga, e o corpo clama por um banho
E no banho entre as espumas, peço que me envolva
Pois preciso de seu alento, a vida tem deixado-me estranho...
~
São os cotidianos de uma doença urbana que nos contamina
Os medos, as angustias, as neuroses de quem tenta viver
A humanidade desumana, e para essa dor não existe aspirina
Mais ainda bem que eu lhe tenho amor, para isso poder esquecer...
~
Mas a noite adentra, e o sono chega, vou poder sonhar
E tu estarás ao meu lado, abraçando-me o pesadelo se emana
Creio assim que tudo passa, sei que com seu amor posso contar
Para apagar da mente, os cotidianos de uma doença urbana...

 
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marco_ramos
 
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Enviado por Tópico
Paloma Stella
Publicado: 21/12/2007 18:00  Atualizado: 21/12/2007 18:00
Colaborador
Usuário desde: 23/07/2006
Localidade: Barueri - SP
Mensagens: 3514
 Re: Cotidianos de uma doença urbana
É tanto que temos, que nos torna doença.

Nos envolve e nos impreguina.


Marco, compreendi cada palavra, e lhe digo que elas estão à altura da nossa humanidade.

Beijinhos