Crónicas : 

OMISSÃO!

 
 
Na primeira dificuldade, em quaisquer circunstâncias da nossa existência, temos por hábito procurarmos o causador das falhas ou, na pior das hipóteses, saímos à procura de um “bode expiatório“ para justificá-las, todavia, com raríssimas exceções, procuramos o engano a partir de nós mesmos.
Qualquer coisa, criada, inventada, vivificada ou feita pelo homem, sempre haverá o certo, o errado e o meio-termo, o que muda é apenas o ponto de observação e suas preferências, bem como, o próprio ser humano e suas desigualdades.
Para um homem, enquanto desonesto, o certo é o errado, em contraposição, para um lídimo, o certo é o correto mesmo.
No meio termo ficam, em determinados casos, às pessoas sem opiniões, sem discernimentos, desinteressadas de tudo e da vontade investigativa ou deliberativa.
A coisa certa, no irrestrito valor do vocábulo, não pode conter em si nenhuma constituição errônea e, muito menos, a omissão consciente, Ela é como um diamante sem jaça ao surgir às vistas do garimpeiro felizardo.
O objeto errado, no irretorquível predicado do vocábulo, também não poderá conter nenhuma formula do correto, todavia, estará sempre congregada com a omissão culposa ou dolosa, é como o excremento de um elefante sendo remexido ou incomodado apenas por um ciscar de moscas.
A VIRTUDE SEMPRE ESTARÁ NO MEIO-TERMO DOS EXTREMOS EQÜIDISTANTES, entretanto, isso não vale quando as extremidades forem o “certo” e o “errado” em razão da virtude nunca amealhar nada dos erros e engodos; sendo, frontalmente, contra o errado, ela não poderá coabitar com ele mesmo estando, aparentemente, em igual distância do errado e da coisa certa.
Ocorrendo essa circunstância, a omissão ficará entre o meio-termo e o errado, contudo, nunca atuando no “certo” em razão dele afastar-se dando lugar de intervalo para a omissão intrusa juntar-se à coisa considerada errada.
O difícil para o homem, na atualidade, é saber discernir entre o “bem” e o “mal” em razão da carência de honra e respeito mutuo contemporâneo, somado a ambição desmedida, inveja desmesurada e egoísmo cumulativo.
Nessa situação, a omissão campeia desordenada pelas planícies da nossa existência, sempre sendo reforçada pela soberba e ambição desenfreada da maioria que dela tenham conhecimento.
Há dois tipos de omissões, uma, a culposa, onde é praticada por imperícia, imprudência ou negligência, a outra, é dolosa podendo até caminhar para ser criminosamente hedionda, neste caso, sempre terá fins lucrativos ou contra a vida humana.
É muito difícil para a maioria das pessoas distinguirem, de imediato, a coisa errada da íntegra, em razão do errôneo sempre estar revestido de omissões danosas e mascarado por subterfúgios e benesses faustosas.
O meio-termo também não é fácil de ser identificado por causa da proximidade da omissão ou lacuna ainda não expelida totalmente dele, e flutuando no intervalo entre ele e o mal, todavia, longe do bem, do qual sempre ficará separado justamente pelo meio-termo divisório e procurado pelo neófito aprendiz da viagem pela vida.
A coisa certa tem luz própria de amplitude infinita e são reconhecidos pela difusão de suas virtudes e dos seus méritos, nela, não há nenhum meio-termo e, muito menos, a “coisa” considerada errada.
Elencar, nestas poucas páginas, todas as omissões ou lacunas diretamente influindo em nossa vida, seriam impossíveis em razão de não haver, no mundo, nenhuma livraria que coubesse os livros e vocábulos necessários a tal mister, todavia, algumas omissões mais contundentes podem explicitar, dentre elas, as seguintes:
-Fabricação irregular de máquinas ou quaisquer outros equipamentos em que a sua vida funcional fica bem abaixo do razoável, com a intenção do retorno dos compradores à nova oferta e aquisição do produto sabotado.
-Fabricação de medicamentos com as dosagens medicamentais abaixo do normal para um maior lucro dos fabricantes em detrimento da saúde dos seus clientes, nesse caso, pacientes que dependem da dose correta para sua sobrevivência, cura ou melhoria de saúde.
-Governos e políticos, de uma forma que está ficando quase generalizada, governando e legislando em causa própria, ou pior, dolosamente lesando seus eleitores e amealhando dinheiro público ou de terceiros para seus cofres ou dos seus apadrinhados ou apaziguados.
-Facultativos, causídicos, policiais, religiosos, engenheiros e construtores, fiscalizações, latifundiários, industriais, comerciantes, banqueiros e muitos outros, numa prática quase constante da omissão em desfavor de todos, inclusive deles mesmos, eventuais e futuras vítimas de seus próprios deslizes com dolo ou mesmo com culpa:
-Um médico que explora seu paciente e até o deixa falecer, poderá, no futuro, ter um seu parente em igual situação vindo a fenecer, ou, sendo assassinado ou acidentado pela falta exatamente da pessoa que deixara morrer atuando com omissão.
-Um causídico omisso que deixa seu cliente inocente ser condenado a uma pena rigorosa, poderá fazer dele um revoltado que, sabedor de sua inocência e do descaso do seu advogado, certamente, engrossará o rol dos criminosos perigosos e só pensará em vingança contra o seu “defensor” e todos os demais.
-Um mal policial que não seja escravo da lei e dos ditames legais, acabará, com a sua omissão, sendo escravo dos homens e transformando-se num delinqüente pior do que os criminosos marginalizados, justamente, por receber salários para fazer um trabalho correto em defesa de toda a sociedade, agindo com omissão, passará do meio-termo e será amealhado pelo lado errado da coisa, prejudicará a sociedade, a si e à sua família, irremediavelmente !
-Um religioso, inclusive protestante, que não seguir os ditames da bíblia sagrada, os dogmas e a fé caritativa, na certa, ficará imerso no lodaçal dos desvirtuamentos e da incredibilidade de seus fregueses da igreja em que se destacou como guia e pastor. Sua lacuna poderá levar muitos dos fieis a desacreditarem nos ensinamentos da igreja de Cristo.
-Os engenheiros e construtores que se descuidarem erigindo construções diversas sem os cuidados necessários à segurança, matarão muita gente e muitos serão levados a bancarrota, inapelavelmente!
-A fiscalização, qualquer que seja ela, que não cumprir os trabalhos lhes distribuído, deixará a coisa “certa” ser mesclada a “errada” sem a separação do meio-termo, que ficara orbitando entre as duas situações heterogêneas ; pagará caro pela omissão que acabará por bater-lhe, também, à porta, principalmente se o seu mister for cuidar da saúde que é pública e, portanto, poderá, se mal fiscalizada, alcançar-lhe, também, de supetão.
-Os latifundiários que não exploram a maior parte de suas terras e se apegam às mesmas sem distribuí-las ou facilitar a compra a quem possa cultivá-las em favor de todos; estará juntando ao seu redor terras não aproveitadas que acabarão sendo invadidas por quem delas necessite realmente, culminando por prejudicar-se ou aos seus herdeiros pela sua ganância possessória, sua omissão desmedida e parvamente ambiciosa, é uma das razões da precária distribuição de terras neste país.
-Os industriais, banqueiros e comerciantes, estão no mesmo altiplano sobre uma montanha de dinheiro tendo na base os seus empregados, funcionários e clientes semi-enterrados pelo vil metal; que eles ajudaram a colocar na pilha sem receberem os dividendos e vantagens do lucro que ajudaram a arrecadar para os patrões, as suas omissões chegam ao cúmulo de prejudicar exatamente a quem sempre os ajudou. Essa é uma das omissões que não permite a divisão das rendas para todos, ou, pelo menos, para quem ajudou pela vida a fora na coleta das fortunas.
Seria como já disse impossível relacionar em papéis todas as omissões existentes, principalmente, em razão de elas estarem medrando em todos os lados e ramos da vida humana.
Até um simples gari omisso poderia deixar algum monturo num canto de rua e, ali, procriarem insetos e mosquitos que acabariam por causar uma epidemia lastimável e mesmo mortais, onde se gastariam milhares de reais que dariam para pagar, vários anos, um gari em cada palmo do piso daquela mesma rua mal limpa pelo funcionário omisso.
Quando um dirigente omite em suas obrigações em desfavor dos que estão em patamares abaixo do que ocupa, estará praticando um ato mais prejudicial e repulsivo do que o dolo consciente, também estará se prejudicando e a seus pares em razão da ordem natural das coisas que não permite deslizes de procedimento, ao menosprezar seus dirigidos, estará, também, esmerilando sua base de sustentação, minando-a, degrau a degrau, até chegar o dia em que, abaixo de si, só estarão os seus comandados, todavia, despojados das energias necessárias a mantê-lo no patamar, tais subordinados terão sobre eles apenas os restolhos das omissões contra os mesmos praticados, dessa forma, todo o palácio de cristal do dirigente ruirá em cacos, estilhaços das lacunas praticadas que, no ricochete de suas arestas, atingirá o foco de sua difusão, ou seja : o venal e imprevidente dirigente !
As formas de governar, que proliferam a cada mudança de comando, às vezes, com a abertura de novos secretariados e/ ou ministérios, onde, de quando em vez, desaparece um deles para ser criado dois ou três, mercê da necessidade de dar acolhimento aos apadrinhados ou cumprirem conchavos políticos transcorridos durante o pleito, levam alguns dirigentes ao cúmulo de ter em seus quadros tais atribuições divididas em várias secretarias e ministérios, cada titular fingindo que obedece ao outro, isso, só quando não ocorre nada de meritório, todavia, uma delas se destacando das demais, os interligados avançam frente aos microfones e câmaras no afã de receberem, também, as homenagens.
Apesar de ser contra tantas divisões de atribuições com aglutinamento de algumas delas na sombra da outra, um ministério ou secretaria teria que já ter sido empossada e estar funcionando a pleno vapor, é o de combate a OMISSÃO (lacuna, falha ou o sinônimo que acharem de bom alvitre).
Já escrevi alhures, que todas as leis do mundo, e não são poucas, caberiam dentro dos dez mandamentos doados a Moisés por nosso Deus, e que não há necessidade de orações, novenas, missas, seminários etc. pedindo ao Arquiteto do Universo para acabar com a violência e a maldade, bastaria, tão somente, pedi-lo pela CONVERSÃO DOS PECADORES e... Mais nada!
Da mesma forma, retornando ao lado humano, uma secretaria ou função análoga que combatesse o bom combate na extinção demolidora da omissão, quaisquer que seja ela, verteria em vantagens imensuráveis e até inenarráveis para todos nós.
A omissão é a “AIDS” de fraque e cartola que nos ameaça e circundeia em todos os nossos passos pela caminhada da vida, de quando em vez, ela se traja de mendigo e fica nos recônditos à espera dos mais simplórios, pobres e desnutridos, quando lhes dá o bote fatal; outras vezes, ela se homizia nos postigos nos vislumbrando parcialmente esperando nossa aproximação para nos dizimar.
Fugir da omissão é mais difícil e complicado do que bani-la em direção do errado insofismável, seu eclético companheiro de peripécias destruidoras, justamente por ela estar sempre dissimulada no entremeio da coisa errada, entre o meio-termo e o mal, com aparência de correta até a sua eclosão calamitosa e, às vezes, irreparavelmente corrosível.
Em determinadas circunstâncias, a omissão é pior do que fazer a coisa errada, neste caso, ainda há a possibilidade da corrigenda, naquele, é praticamente impossível, dado ao fato da omissão não ter consistência para o remendo, por ser “algo que se deixou de fazer’”.
No dia em que a humanidade não mais aceitar ou praticar a omissão dolosa ou culposa, a terra será um paraíso de gozos e felicidades, onde tudo que se fizer, criar ou participar, sempre estará burilado e com o selo da aceitação de todos, funcionando para todos e em favor de todos.
Aos poucos, o “errado” irá se desvanecendo por falta de clientes, platéia e da ajuda da omissão, conseqüentemente, as lacunas serão cimentadas pelo meio-termo interligado ao correto e que servirá de timoneiro do destino da humanidade a caminho das estrelas que é o seu porvir prescrito há milênios.

Coronel Fabriciano-MG.
(aa.)Sebastião Antônio BARACHO
E-mail: sabaracho@ig.com.br

 
Autor
S.A.Baracho
 
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