Lobos
Inúmeros lobos, espumando de ódio
Com dentes afiados à mostra
Circundavam, em guarda, o imenso castelo
Negras paredes ao tempo, tocavam às nuvens espessas
Molhadas pela insistente chuva de um inverno
Que castigava toda sorte de vida
Lua descrente, de brilho desprezível
Pairava solitária, como débil mancha em tela cinzenta
Entre as gélidas paredes da noite sem fim,
Inerte, agonizava aquele homem
Envelhecido desde cedo
Pela crueldade desse tempo maldito, que não sossega
E açoitado desde sempre,
Pela chibata afiada do destino
Ele morre lentamente, começando a sonhar...
Sonhando que pode falar, escrever e até sorrir,
Chora esse velho numa poça de suor,
Com febre, delira em esperança
Que acena à felicidade
Ele se levanta da pedra que congela o seu corpo
E solta a alcateia que guardava o seu castelo
E vê seus lobos livres, correndo em todas as direções
Percorrendo planícies e riachos...
A morte requerida se tornou uma prece
As paredes ruíram
E a chuva deu lugar ao orvalho em seu rosto
E o seu pequeno coração,
Deixou de ser um castelo
Juarez Florintino Dias Filho
Juarez Florintino Dias Filho