cada lembrança é uma corda a ser lançada no mar. esta corda é engendrada com cada fio de pensamento, que vão sendo trançados por mãos várias, ora virgens de trabalho, ora entregues ao despudor da automação. a fábrica é um manicômio, ou assim se parece, tão cheia de gritos e silêncios e passos bruscos e drogas para ampliar a eficiência dos operários. nas horas de almoço, esses operários descansam em redes de lona que trazem de casa.
as cordas, depois de todo o processo, são enredadas para pescar sonhos ingênuos que ainda vêm à superfície para respirar. o pescador maduro já sabe onde e quando esses sonhos emergem, e usa a rede de lembranças para pescá-los. os sonhos então servem de iscas para o passado. quando há sonhos suficientes, o passado vem à tona, e o pescador afunda em seu lugar.