Porto infinito
A cidade de Valença
viaja rumo às águas doces.
Transporta-se também
destino ao mar aberto
salgando sempre as mesmas almas.
Nas margens do bairro do Tento
erigem-se monumentos
a desígnios inteligentes
de cálculos mais-que-perfeitos.
Na orla do rio Una
habitam os guardadores
da aventura: mestres
a quem adivinho e exalto
do horizonte da minha paisagem
de arquiteto pobre.
Nessas mesmas margens
que reúnem cálculos
que arquitetam barcos
que levam a portos
ouço o vaivém das enxós
sobre o tronco das jaqueiras.
O ruído sem fim
vai ferindo as águas distraídas
do rio Una
enquanto o ofício que constrói
trai memórias
de rodas de outrora.
Discípulo do desenho
do grande arquiteto
quero recordar.
Traço teias
reúno e emendo
sem descanso
na rede do projeto.
Aspiro a maresia
repouso o corpo
nas bacias das lagoas.
Calculo a escora
do corte sobre as madeiras
ancoro o barco do meu sonho
e tento deter a dispersão.
Embarco e desembaraço
com paciência
os fios d’água desta história
Diviso o oculto
demarco as vistas
e zarpo ao porto infinito.