Poemas : 

Pequena história

 
Pequena história

Adiante beira do Tejo
nossas almas se apiadam
uníssonos gemidos
das ribeirinhas nas lezírias.
Arfam, sangram
mas cantam
as dores da sua falta.

Deixo vazar águas de memória
e uma a uma de suas cenas.
Vejo os cervos que pascem imóveis
e as donzelas que se lavam
em águas revoltas.

Planície de lezíria
pátria de poetas.
O olhar compreensivo
apenas reconhece
caminho há tanto percorrido
olhos e sentidos
dos que nos contaram Portugal.

Santa Justa e seu elevador
fim de tarde no Rossio
uma candeia à Fátima
em São Domingos Sávio.

Fim de tarde no Rossio
alimento para o de corpo
de almas brasileiras
nos sítios de Lisboa.

Quase pássaros
leveza de passos
passeio nas ruas
famílias de infância
nos nomes das montras.

Neste espaço
num relance
num elétrico
eis que se vão
quem sabe
origens de antropônimos.

Palavras que atravessaram o mar-oceano
rumo às cidades da costa baiana
designando filhos
que a tudo captam
pela luz das lentes
do seu desvelo.

E o que dizer dos telhados
e das torres dos castelos
ecoando histórias não contadas.

Eis que os cronistas retornam
para o testemunho:
Fernão Lopes e Alexandre Herculano.

Neste mosteiro que guarda Camões
há voos de estilo venturoso
dos seguidores de Manuel o soberano.

Em Belém mirando a torre
dissolve-se o açúcar dos pastéis.

Padrão dos descobrimentos
pessoas descobridoras.

O artista na Rua Augusta
e na área portuária
o Tejo solene e mansamente correndo para o mar
lavando a soturnidade e as lágrimas salgadas dos seus vates.

Salve Garret, Quental, Cesário Verde!
Ave Nobre, em sua torre de sentimento
Evoé Eça, que tudo viu
e sobre tudo narrou.

Na Alfama o porto de honra
e os caminhos já sabidos
becos que levam ao povo
do Chiado
onde reina o carro do fado
as casas de fado
e as griffes globalizadas.

Enquanto isso o poeta vela
e o cronista se alça
ladeira acima
seguindo o compasso da batida do seu coração
lá no alto (ou na baixa)
na “Brasileira”
o encontro
com Pessoa
que lá vigia por nós.


 
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Heloisaprazeres
 
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