Uma menina me disse que estava chorando
Sangrando pelos olhos que insistiam em escorrer
Trancada num quarto
isolada, sem ninguém para lhe acolher
Mais uma vez se deparava com as durezas da vida...
- Como todos o fazem -
A vida era difícil para ela...
- E o era para todos -
Mas ela se sentia só...
- Como todos se sentem -
A menina blindava o que sentia,
vestindo um sorriso público
e um choro íntimo
Encenamos para a plateia uma cena afável
E por trás das cortinas,
nos reduzimos à isolada companhia de nós mesmos
A única dor sentida é a que dói na própria pele
- E hoje a pele dela doeu mais do que o de costume -
Não havia espaço para dizer como se sentia
- A menina não conseguia falar -
Nem para ouvir o que por alguém é sentido
- E não conseguiam escutar -
O tempo passou e a hora chegou
Ter de dar o “adeus” que suplicava “fique”
Estava sozinha mais uma vez
- como todos o estão -
Lado a lado, bilhões de pessoas no mundo
e você está solitária
Eu também estou,
sete bilhões estão
A companhia de se estar só é tudo o que se tem
Por mais que se prenda na vida
As coisas vem, ficam
o tempo passa
e elas vão
Assim como a tristeza,
que bate na porta e diz olá
Você faz sala por um tempo,
mas logo ela tem de ir embora
Não se preocupe, menina
Pois logo ela achará outra pessoa para visitar
E assim como, talvez, a tristeza um dia retorne
O que hoje partiu,
amanhã pode voltar
Lucas Tonhá