Cavando bem fundo,
só assim consigo suportar esse mundo
Cavando até o fim do poço
Já cansei de insistir,
não vou mais fazer esforço
Movendo-me na inércia,
aos poucos vou me enterrando
Fico estagnado e sem pressa
E o pior é que até estou gostando
Não tenho expectativas nem planos,
só pertenço ao mundo e vejo o tempo passando
A cada pá de terra que jogo sobre mim
Mais duas são jogadas,
por quem prefere a vida como está
E nem mesmo para pra se questionar
O mundo se move muito depressa,
e essa loucura toda não me interessa
Não quero mais me levantar,
prefiro ficar aqui no poço e descansar
Eu estou cavando,
e o meu peito segue sangrando
Pela falta de cor que há no mundo
Pela rotina desenhada em preto e cinza
Estou tão cansado desse marasmo,
que agora tanto faz
Cada um por si,
não tem problema, fico pra trás
Alô, alô, alguém me escuta?
O grito de socorro sai de uma voz muda
Que cansou de tentar,
e talvez não queira nem mesmo ajuda
Tem alguém do outro lado?
Se tiver, não venha pra cá,
vai ficar decepcionado
A cada minuto de paz, por aqui
Você recebe mais dois de agonia
Essa é a vida, menino
Aproveite e sorria
As coisas não param, nem vão parar
Depois de um problema,
há sempre mais dois para sanar
É melhor viver em anestesia,
nem pensando na loucura que é esse dia a dia
Cada um, em si, é um mundo inteiro
Que vive encarcerado pela rotina e o emprego
Mas eu não consigo me acostumar,
são muitas expectativas para corresponder
Ninguém me perguntou se é assim que eu quero viver
A ternura que há no mundo
Hoje se embrutece para receber o salário
Deixou de lado a beleza das coisas,
para ser um bom funcionário
Enquanto todos seguem o fluxo
Sinto vontade de ir para o lado contrário
Não quero ser mais um ser humano no automático
Movendo-se sem saber o itinerário
Lucas Tonhá