Com motivos de sobra e inspiração,
transpiro as palavras, essas ingratas,
sempre comigo.
Infelizmente, sempre sozinho,
angustiado e aflito, felizmente,
vamos em vão, respirando poemas,
vendo com as mãos o mundo,
sempre de olhares mudos através de janelas.
Quem sou eu? Nunca serei, eu sei,
é tudo delírio e um pouco de literatura.
Tudo é loucura que grito entre dentes.
O fim do dia termina,
o fim do ano começa,
a dor, sempre presente,
permanece pra sempre
como um vento breve
levando as pétalas roxas da calçada.
Agora sou saudades e olheiras,
lágrimas que escorrem nas veias,
que no peito doem e trazem o infinito vazio
- universo dentro de mim,
será que existe vida?
Olhos castanhos claros que nunca mais verei,
e aquela alegria feliz por inteira, apenas memória,
a não ser que alguma criança sorria igual a você:
quero esses sinônimos que talvez iludam-me.
Sou beira sem eira.
As sobras do que fui e as cinzas do que serei
junto a cada passo - marca-passo e utopias compassadas -
sem futuro para o nada.
E no fim do dia a minha oração é rimada
- desgostos e plenitudes subordinadas -
por saber que em algum lugar existe a felicidade
- nirvana e festas de aniversário -,
por saber que em algum planeta pequeno no espaço
existe vida e abraços e toques na pele
- pequenos príncipes cheios de ternura -.
E tudo é tão fugaz que nem dá vontade de chorar,
e tudo é tão amar que nem dá vontade de amor,
e tudo é tão dizer que nem dá vontade de bem-vindo,
e tudo é tão lindo que nem dá vontade de viver.