Pedras no caminho. Pedreiras da memória
de dias que se foram somando
atenuados por sonhos, de íris brilhantes.
Vencida, mas fruindo a vida, o mais possível
na fluidez vibrante da imaginação.
Não, não tenho pena de mim, sou consciente
mas sempre ausente, perante várias portas
eu sei a que devo abrir, mas por capricho abro sempre outra
sempre agilmente a arder.
Alma e corpo rebentam os limites
entre melancolia e solidão
mas também com acessos de amor e paixão
em desejos irreprimíveis
de desassossego, para apesar de tudo
ser eu a sentir as feridas a sangrar.
Desajustada, inadaptada, corroída pelo medo, sim!
Um medo indefinido entre tudo e nada
o pior dos medos, o medo de viver em cinzas
assombrada por viagens no tempo, no tempo não vivido
de vidas pressentidas com sabores acre-doces
num horizonte esfumado pela saudade do jamais
transcendendo a dimensão inatingível.
Cavalgo em galope de afogueamento espiritual
para chegar ao infinito, para lá do finito, o mundo invisível
sempre indecifrável, opaco enigma, que floresce aos meus olhos
numa sede de viver com o mistério, que estilhaça o tédio.