" Não hás de ser no inferno abandonado”. —
O doce pai se afasta e à porta avança.
Ficando assim na dúvida e incerteza,
No pró, no contra a mente se abalança."
A Divina Comédia - Inferno - canto VIII ver 108/111
“in lecto iaceat”
Provindo das entranhas de Gaia, agora jaz em cama de mentiras,
dorme na contemplação de si mesmo, só olha para dentro de si,
regando presunçoso todas as rosas de sangue rotundas rasgadas,
sem descanso, profundamente procura a pretensa imortalidade.
Ignaro de si mesmo, baila; entre a arte e a realidade, parvo balança,
é o simulacro de um fantasma esquecido que precisa de descanso,
não sabe que está morto, não pode mais ser perturbado nocaminho,
nem ouvir de bocas imortais palavras, nem signos de paixão prever.
No espaço, lança, mesmo vazio, gritos de uma distância que bate,
preocupa necessidade de manter a imortalidade, dissipar ligações;
já não move mais as mãos que crispava, fica afastado do calendário.
Nem a boca que escárnio de ricto exarava entre o sim e o não,
último lugar vago no ultimo espaço, no centro do planeta existente,
a boca cala, não ouve mais os gritos proverbiais, só simples traços.