Olhei para o passar de uma hora
que lenta passava e depressa ia ,
porque a sua pressa, a minha demora
por mais que passasse, não coincidia.
A hora passava lesta na verdade,
tão lesta como lesto é o dia
trambolhava com ira e tal velocidade
que por mais que a olhasse, não a via.
A hora passava a cada ponto de vista,
fosse mais depressa ou mais devagar
consoante a vontade ou o pensamento.
E a hora, quanto demora ou dista?
Tanto quanto uam rabanada de ar
tão lentamente como um doido vento.
O passar de um segundo
O passar de uma hora
O passar de um primeiro (também chamado de caneta preta)
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.