Ouvir todos os dias
A mesma triste melodia
Chorando as lágrimas de ontem
Sofrendo com pensamentos de sempre
Sustendo a dor de à muito tempo....
É duro e não me devia queixar
Ninguém me obriga
Mas é que ao ouvir
Cada palavra, cada acorde
Me lembro de cada traço teu
Que desenho de olhos fechados
Numa folha de papel que insisto em guardar.
Relíquias que ninguém entende
Sofrimento que não desejo ao meu pior inimigo
Quanto mais ao meu próprio coração.
A cama fria a cada noite
O espelho vazio
A guerra para ver quem é o primeiro a ceder
O simples bom dia
O beijo ao acordar...
Nada é o que tenho agora
E é a ele que me tenho de habituar
Porque por mais que te queira aqui comigo
Há um muro enorme para nos separar
Paredes sólidas para nos repelir
Que me dizem que somos só amigos
Quando o que mais quero neste oceano
É ser a tua boiá de salvamento.
Ser mais que o rochedo que consegues evitar
A onda de que corres sem hesitar.
A areia que sacodes cada dia ao teu mundo regressar...
Entende que só quero ser a discórdia
Daquilo que dizes pensar.
Desacordar-te deste mundo
E levar-te para sei lá onde
Porque quando penso em ti
Não importa onde quero estar.
Sejamos nós e a madrugada
Em corrida a fugir da alvorada.
Evitar a prisão que me possa perpetuar
Porque mais que uma pena não posso suportar.
Nada faz sentido
Nem mesmo estes versos que acabo de recitar.
São pensamentos dispersos
Espinhos do coração arrancados
Pedaços de mim que liberto
De alguém que não quero soltar.
Louco
Desvairado
Chama-me aquilo que à boca te vier
Lá bem no fundo sabes
Que não sou mais
Que o teu eterno apaixonado.
César Ferreira.