Entre o escuro brando de Verão,
Entre os pensamentos que não contive
e deixei em vão,
Entre o azul bruto de Inverno,
Entre o paraíso e o Inferno.
Entre o barco da tristeza,
E entre a ponte d’alegria,
Entre o nevoeiro que envolve a fortaleza,
E o farol riscado que a vigia.
Entre um ontem sem porquê,
E um hoje “porque sim”,
Deixou-se a mágoa que não se vê
e se abriga em mim.
Entre as memórias que vêm
e me consomem as mãos,
Entre um presente sorrateiro
que me deixa sem noção.
Entre o errado e o certo,
Em frente a um portão fechado
e outro aberto,
Entre aquilo que não se devia,
Mas se faz,
Entre todo o pensamento fugaz.
Cheira-me a gás.
O gato deixa-se na cama.
Saco um cigarro,
E acendo uma chama.
Tenho fome,
mas não tenho comido.
E o tempo que me consome,
Esse, deixa-se perdido.
Gosto da nostalgia,
Neutralizo-me nela.
O gato mia
Sobre a manta amarela.
Oiço os pássaros em persistência,
Que me cantam sobre o vento.
E num suspiro lento,
Afundo-me em dormência.
Sem jeito para rimar,
Sem sentido para fazer,
Sem sonhos no olhar,
Ou esperança p’ra viver.
Lá está o gato,
Gordo, preto,
Deixado à sua sorte.
E eu, rodeada por gás,
Anestesiada, me sento
Sobre a morte.
Sem qualquer alento.
Lau'Ra