OS CAMUFLADOS
Um corpo contorcido no seio da noite
Olhares perdidos querendo olhar
Um rio de sangue dobrando a esquina
Um nome perdido querendo se achar
Há um clima despojado nas retinas
Um comunista, um nazista, um gilete
Destemidos, coroados ou renegados
Encabeçando o ról dos homens camuflados
Um morto decomposto no veio do rio
A lama fedenta querendo levar
E um resto de vida soprando na pista
Que a lista negra deixou escapar
Há um crime planejado na planilha
Uma malandra, uma laranja, um rebelde
Um mandante, um ajudante, um desviado
Encabeçando o ról dos homens camuflados
Um rosto desenhado e sendo marcado
Retrato falado que vão apontar
No fundo do lôdo ou no cume do morro
Inocentes perdidos querendo voltar
Há um prisma elaborado nas cortinas
Um torturado, um exilado, um suicída
Um carrasco, um fascínora pirado
Encabeçando o ról dos homens camuflados
Um duelo apontado no centro do açoite
Um homem ferido querendo escapar
Nos passos do vale um rastro de sangue
Que a sociedade não quer perdoar
Há um filme em cartaz na sala oito
Um calçadão, um refletor e um chinelo
Um berreiro, um salseiro, um justiceiro
Uma cruz em verde,azul, branco e amarelo.
Daniel Flosino Lopes (Danny)
Poeta, compositor e escritor
Canções em festivais de músicas como MPB-Shell, coletâneas literárias da Shogun Arte e Crisalis Editora pelo Rio de Janeiro, crônicas no jornal Gazeta de Ribeirão Preto entre outras obras.