*A minha versão de enredo para:
ÚLTIMO CAPÍTULO
No amplo salão, onde uma mesa para doze estava requintadamente composta, ouvia-se o burburinho das vozes, em respeitosa moderação de timbres. Uma breve gargalhada soou, algures, e todos os olhares se voltaram para a origem dela, com uma estranha atitude de quase consternação e ofensa: fez-se um silêncio pequeno, e, logo depois, as conversas e os rostos voltaram ao tom grave, quase austero, que a ocasião impunha.
Alguém deu voz à ordem de sentar – o jantar ia ser servido. Havia doze lugares à mesa, mas só onze convidados na sala – sete homens e quatro mulheres, todos de idades a rondar a meia vida. O anfitrião, como sempre acontecia naquelas reuniões, serviria a refeição, e só se sentaria no seu lugar, ao topo da grande mesa, quando entrasse com o manjar e o servisse a todos, um por um.
O candeeiro enorme, suspenso sobre a mesa dos onze convivas, pareceu oscilar levemente, concedendo aos cristais que lhe adoçavam a luz, refulgências de curiosidade e espanto. Todos se voltaram para a porta, estranhamente sentindo uma aragem fria, reminiscências de brisa marítima, um gosto quase salgado-seco na boca...
O décimo segundo conviva, erguendo na mão direita uma enorme bandeja, trazia o braço esquerdo enfaixado e seguro ao peito. Uma mancha de sangue vermelho vivo trespassava as gazes brancas, deixando perceber que o acidente fora recente. Mesmo assim, sorria, triunfante, quando entrou na sala. Depois, em silêncio, pousou a bandeja sobre a mesa: uma mão esquerda, cortada com o pulso, fumegava, ainda, na enorme travessa...
Todos bateriam palmas, se tivessem as duas mãos... mas, claro, a todos os restantes convivas, faltava já a mão esquerda, cortada ao nível do antebraço... restou-lhes olhar com respeitosa admiração o “último sacrificado”, e, com estranha e discreta gula, o “último manjar”...
FIM