Tive bocas abertas de espanto, respirações suspensas
Suspiros de alívio e palmas, muitas palmas, num mundo
Retumbante de cor, luz e música…
Estudei pormenor a pormenor, acarinhei baba
Decepei asas coloridas, antenas, pernas e até cabeças
Queimei, para sentir o cheiro acre e venenoso…
Descobri imagens interiores, penetrei em almas
Mergulhei em mim e quis cantar a dor mais funda
Olhando para dentro do meu espírito…
Reneguei tudo, flutuando no negro, que destaca a palidez
E como estava condenada à liberdade, cerrei punhos
E desbravei o mato mais inacessível, em furor de seiva
Olhei as pedras, as suas sinuosidades, o tempo das pedras
Cavei buscando dramas de outrora, com pá de ferro
Olhando os meus dedos terrosos e ferrugentos…
Sem destino, corri mundos em asas de fénix
Calcorreei o pó, a lama, entre silvados e flores
Desmaiei à beira mar sem saber quem era…
Galopei por todos os sonhos e todos os corpos
Mel e bílis, senti fervilhantes na minha boca
Painéis de cores gritantes levaram-me ao zénite…
Subi por todas as prateleiras, à procura de luz
Regurgitei saberes cobertos de teias e mijo
Lutando contra aranhas e ratos…
Agora estou à espera, levem-me devagar
Tenho os ossos frágeis, muitas cicatrizes
Só quero uma cama de erva fresca para descansar…