" Nem colhe os cabos nem as velas ferra,
Odiei quanto houvera mais amado
E humilhei-me confesso e arrependido...
E o perdão, ai de mim! fora alcançado..."
Dante Alighieri - Inferno, canto xxvii, ver. 84/87
na noite branca, esfregas as mãos. semblante áspero, aspecto sisudo
tentas obter um pouco de calor, como se as mãos assim esfregadas
meio às brumas de uma noite de inverno - pessoas vestem veludo -
trouxessem algum pouco de calor ao corpo inteiro, energias renovadas.
[e também]
uma janela de vidro fecha-se rapidamente. encerrando no calor do quarto
tens desejos de arrependimento, mas...nem pensas em querer pedir perdão.
teu arrependimento nada valerá. jazerá solerte . silente ficas enquanto parto
( és hipócrita)
..
por que ...
uma janela de vidro espancada pode abafar o som exterior,
tua voz não atravessa e vai refletir reflexos de raios do luar
seu arrependimento, grãos de areia arremessados ao redor
erro de juízo, ninharia palha ardendo sem deixa cinza voar.
teu arrependimento. jamais seja uma ponte para satisfazer
os caprichos de uma alma atormentada aguardando um milagre.
primavera passa, árvores preparam-se firmes no solo sequer
uma raiz solta da argila, nem uma folha que seiva não consagre
enquanto isso ...
aves cruzam o céu levando no bico os fragmentos angariados
construção de um abrigo seguro. dia e noite, haja chuva ou o sol,
teu sentimento continua cego. não te vejo nada fazer, denodados,
ingentes trabalhos apenas contemplar da insensatez triste rol
O mundo lá fora é imprevisível, teus desejos mesquinhos
não serão satisfeitos ante simples lágrimas cruas
pedes o perdão, ou voltas pelos mesmos turvos caminhos
então ...
teu sonho será em vão. um sonho curto pode ser muito pouco,
mas é muito diante de nenhum sonho, são desesperanças tuas
vertendo copiosas lágrimas sem perdão diante de ouvido mouco
Mas quando alguma vez foi
um diferente ?