PRÉMIO EM MARTE- NELIAXP -------- 3º lugar, com 28 pontos
PRÉMIO EM MARTE
PRIMEIRO CAPÍTULO
Eram 5h da tarde quando o foguetão, último modelo acabara de aterrar em Marte. Lá dentro os 12 passageiros confortavelmente acomodados preparavam-se para sair. Todos tinham um ar radiante, pois apesar de serem mais de 1000 concorrentes, só eles tinham ultrapassado todas as provas que os levaram até ali. Aguardava-os agora a prova final, mas ninguém sabia o que os esperava, pois só o piloto tinha assegurada a viagem de regresso.
Um a um foram levados para um grande palacete encrostado num conjunto de rochas em tom madrepérola circundado por um rio de águas cor de violeta. Entraram pelo enorme portão até ao jardim, e depois foram introduzidos num salão redondo com janelas em toda a volta com vistas para exterior. No centro, assentado numa poltrona de veludo de cor neutra estava o presidente do júri vestido de forma estranha com uma capa que lhe cobria o corpo desde o pescoço até aos pés. Com uma voz pausada e austera revelou que a partir de agora era: “um por todos e todos por um”. O prémio só seria conseguido se ultrapassassem a prova final, e se um falhasse, tudo estaria perdido.
Foi-lhes dito que iriam ficar incomunicáveis, no entanto todas as noites um concorrente seria chamado através de sorteio para um jantar especial. Em cada jantar mais um seria acrescentado à lista, mas só passados 12 dias, estariam todos reunidos, no último banquete que seria realizado na parte superior do palácio, se entretanto ninguém falhasse o objetivo.
Os participantes estavam surpreendidos e até receosos, pois o ambiente tinha um ar de mistério e de pouca segurança, no entanto em breves segundos foi-lhes servida uma bebida de sabor agridoce que os deixou um pouco tontos. À medida que os minutos iam passando começaram a sentir-se muito felizes e cada vez mais eufóricos; afinal eles eram os heróis e todo o universo iria assistir em direto à sua vitória!
O que eles não sabiam é que a partir de agora iria começar o seu terrível pesadelo...
Manuela Matos
ÚLTIMO CAPÍTULO
No amplo salão, onde uma mesa para doze estava requintadamente composta, ouvia-se o burburinho das vozes, em respeitosa moderação de timbres. Uma breve gargalhada soou, algures, e todos os olhares se voltaram para a origem dela, com uma estranha atitude de quase consternação e ofensa: fez-se um silêncio pequeno, e, logo depois, as conversas e os rostos voltaram ao tom grave, quase austero, que a ocasião impunha.
Alguém deu voz à ordem de sentar – o jantar ia ser servido. Havia doze lugares à mesa, mas só onze convidados na sala – sete homens e quatro mulheres, todos de idades a rondar a meia vida. O anfitrião, como sempre acontecia naquelas reuniões, serviria a refeição, e só se sentaria no seu lugar, ao topo da grande mesa, quando entrasse com o manjar e o servisse a todos, um por um.
O candeeiro enorme, suspenso sobre a mesa dos onze convivas, pareceu oscilar levemente, concedendo aos cristais que lhe adoçavam a luz, refulgências de curiosidade e espanto. Todos se voltaram para a porta, estranhamente sentindo uma aragem fria, reminiscências de brisa marítima, um gosto quase salgado-seco na boca...
O décimo segundo conviva, erguendo na mão direita uma enorme bandeja, trazia o braço esquerdo enfaixado e seguro ao peito. Uma mancha de sangue vermelho vivo trespassava as gazes brancas, deixando perceber que o acidente fora recente. Mesmo assim, sorria, triunfante, quando entrou na sala. Depois, em silêncio, pousou a bandeja sobre a mesa: uma mão esquerda, cortada com o pulso, fumegava, ainda, na enorme travessa...
Todos bateriam palmas, se tivessem as duas mãos... mas, claro, a todos os restantes convivas, faltava já a mão esquerda, cortada ao nível do antebraço... restou-lhes olhar com respeitosa admiração o “último sacrificado”, e, com estranha e discreta gula, o “último manjar”...
FIM
*(todos os enredos teriam que ter, por lógico, este final:)
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