os jardins de meus vizinhos
são mais chatos que este chão
são uma pedra em meu caminho
onde cai minha visão
onde cai minha visão
brotam flores e espinhos
bem cuidados, tudo em vão
nos jardins de meus vizinhos
nos jardins de meus vizinhos
é mais verde toda a grama
onde canta o passarinho
que gorjeia e me chama
e gorjeia e me chama
aos jardins de meus vizinhos.
passarinho, guarda a flama
que no peito fez um ninho
em meu peito fez um ninho
um desejo qual nenhum
passarinho ou vizinho
já ciscou até ter um
pois cisquei até ter um
um jardim apenas meu
não mais um lugar comum
antes luz em meio ao breu
essa luz em meio ao breu
é semente duma mente
mente lírica do eu
que doente já não mente
e doente já não mente
leva em frente sua sina
toca o sino até dormente
sua mão tão pequenina
tua mão tão pequenina
como quando borboletas
em seu voo que fascina
pousam sempre além das cercas
pousam sempre além das cercas
nos jardins de teus vizinhos
não apenas borboletas
mas também os passarinhos
mas também os passarinhos
voam livre pelos ares
não precisam ser mesquinhos
têm a terra, o ar e os mares
têm a terra, o ar e os mares
não precisam de mais nada
pois de tudo que amares
nada tens, e o peixe nada
nada tens, e o peixe nada
nada n'água, bebes vinho
escutando a passarada
nos jardins de teus vizinhos
dos jardins os meus vizinhos
com surpresa veem a enxada
em m'nhas mãos, assim sozinho
revolvendo a terra arada
revolvendo a terra arada
os meus sonhos cá semeio
no meio, aterrorizada
minha sombra, com receio
minha sombra, eu receio
tem temor tão infundado
quanto o fundo devaneio
que jardim me fez fundá-lo
um jardim por mim fundado
semelhante a mais nenhum
poucas flores e gramado
magro pasto de jejum
magro pasto de jejum
e buraco a todo lado
e um lago, tenho um
no jardim por mim fundado
no jardim por mim fundado
não queria borboletas
nem o campo perfumado
nem de cor além da preta
nem de cor além da preta
precisou do céu no lago
pra que a lua me conceda
um jardim a mim fadado