A partir de hoje a tua cadeira
Será arrastada por outras mãos
Que mesmo sendo do teu sangue não sabem
Todos os sonhos que tiveste no arrastar
Foste surpresa, alegria e conforto para os teus
Mãe e avó adorada em todas as mesas
Até na do padre (ele hoje disse)
Mas nem por sombras foste apenas isso.
Há muitos anos uma criança pediu pão
Á mãe defunta no cemitério
Eras tu uma simples menininha!
E quantas bocas depois te agradeceram!
Em solteira tua morada foi em casa
De teu irmão mais velho, o meu avô
Que já casado tinha um filho, o meu pai
Que dormiu no teu leito em bebé.
Eram casas apertadas como os laços
Que nessas famílias humildes se fundaram
Irmãos-pais e tias-mães com muito amor
Solidários sem saber o que isso era.
Esta semana o pão por fim acabou
E hoje uma tempestade gritou por ti
Resposta arrastada de um céu que tarda
Mas que nunca se esquece de nos ouvir.