Esta saudade que carrega o tempo sobre as costas, faz vergar os corpos, que cedem à ausência do outro. A proximidade é como um íman, atrai-nos, chama-nos. O teu corpo gritou ontem pelo meu, num grito em silêncio, que apenas o olhar soltou. O meu corpo agitou-se, sentiu o teu chamamento, estremeci por dentro na ânsia de que tomasses a iniciativa de te aproximar. Senti-te vir, com a tranquilidade da brisa suave, de mansinho, chegaste o teu corpo ao meu, deixaste que te acariciasse, olhaste-me nos olhos, sentiste o meu calor, colar-se ao teu. Os meus dedos, gelados pela tua ausência, ganham fulgor ao sentir a tua pele, tornando-se, num ápice, em línguas de fogo que se fundem com a erupção da tua pele. Abraço-te, com a delicadeza duma pluma, sentes as minhas mãos sobre o teu corpo e deixas-me sentir a segurança que sempre encontrei nos teus braços. Neste momento, a criança perdida, sente-se protegida. A mulher, que outrora estava só, sente-se completa. A alma, triste e cinzenta, encheu-se de cor, e juntos, ganhamos asas para voar. Senti o toque dos teus lábios, sobre os meus, senti, o gosto da tua boca sobre a minha, senti, os teus braços envolverem o meu corpo como se me cobrisses com um manto de amor. Deixei que os meus olhos se fechassem, entreguei os sentimentos à alma que me transportou junto contigo para a eternidade de um momento em que nos completamos, em que matámos a distância, a ausência e a saudade, num beijo lânguido, num abraço apertado, mesclando a fragrância do teu corpo, com a essência da minha alma duma forma mágica, e nesse momento, o mundo parou em nosso redor, por uns instantes, para suspirar.