De quando nasci, chorei
por não querer estar aqui.
Mas nasci!
Cresci ao largo do Amor
envolto em sudários-de-solidão,
dor d'um coração,
destino d'um apátrida ...
Corpo sem Alma,
comboio sem calha,
casa sem janela,
Espirito sem Vida.
Tantas horas me bateram
no pulso dos desejos,
tantos gritos que dei,
tantos sorrisos que falhei,
tantas lágrimas decantei
que meus olhos se tornaram
dois decantes!
Meus olhos, ái meus olhos,
olhos esses que viram
tanta gente mas que
tanta gente não viu,
humidos, salgados-de-desespero ...
Valeu-me Cristo estar na Cruz
p'ra aceitar tal sofrimento!
Tudo eu fui sem nada ser!
Longe, tão distante-do-coração,
perto, tão perto-da-solidão.
Tudo em mim foi pálido e em vão!
Morto-vivo entre casas,
vivo-morto entre gentes!
Tão morto que mais valia
ter morrido, ou não!
Fui tão pouco, sendo tanto,
que tudo o que fui, sendo nada,
sempre será pouco ...
E o que virá? O que virá será mais?!!
Esta terra não me chega,
porque há um Universo,
e Universo é, "versus Uno",
para a Unidade!
Unidade que em mim procuro!
Mas entre mim e Eu
há um oco ainda, um vazio!
É a dor da mascara
que teimei em não tirar!
Ela não sou Eu,
é um morto que já fui
e não morreu!
Como se tira a mascara?!!!
E depois? O que será?! Será?!
Já não importa!!
Quero ver a minha face!
Ricardo Louro
No Chiado
em Lisboa
Ricardo Maria Louro