A noite havia sido
deveras tormentosa,
Acordara de mau humor
[desculpa perfeita
para se colocar a culpa
em algum pesadelo]
As passadas sonolentas
nas longas escadarias
prenunciavam o rumor
de um dia feito
como leite azedo.
Sentara-se à mesa,
cabelos desgrenhados,
rosto amarrotado
feito terno de linho
A dona da pensão
- “das Dores” - pedira
a Maria dos Prazeres
- a jovem garçonete -
que lhe servisse o café
algumas bolachas e
depois ovos mexidos.
Prazeres se tremia feito
vara-verde, ao se aproximar
do estranho hóspede.
Ele acenara
Bastante circunspecto,
que queria mais café.
Também não comprava
o jornal, pedia sempre
o exemplar da véspera
E assim ficava lendo
as notícias às avessas,
vez por outra, blasfemava
O bule já estava quase seco,
das Dores coava o café,
mas sem trocar o pó.
O inquilino impassível
não se incomodava
de tomar café passado
pois vivia do seu passado...
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 30 de maio de 2013.
Arte por Juan Gris ~ man in a coffee