Poemas : 

Em analogia

 
Numa analogia,
Comparo-me a uma sombra,
que na reflexão de luz assombra
e vigia.

Perco-me no monte de palavras
que criaste,
Num pequeno livro de melancólica descrição
Que me monta os pedaços na perfeição,
E que me diz que um dia
me amaste.

Mas eu já não ando da mesma maneira,
(Ouvi dizer alguém que lamentava),
E eu já não te sorrio como costumava,
Em vez, destrui-me e tornei-me poeira.

Estou a sentir-me velha, e fria, e cinzenta.
Numa fio de voz, pareço-me materializar,
Mas depressa ele se quebra para me deixar
nua perante o silêncio que atormenta.

Estou a lutar o tempo em vão,
Estou a diluir o sangue com convicção
de que um dia este puzzle de carne e ossos
se complete e pare os pensamentos dolorosos.

Deito-me no chão,
Frio, torto, mal feito,
Que me congela o peito
e me encolhe na solidão.

O tecto eleva-se na sua altura,
Tão branco e doce.
Quem me dera sentir a paz de tal brancura,
Oh, nem um beijo que fosse!

Gostava de me erguer,
De me apoiar nas forças do corpo ferido
De me olhar num espelho partido,
e um beijo dessa brancura receber.

Mas deixo-me sobre a podridão da madeira,
Que me pensa vazia e morta,
Ali lívida, deitada, torta,
(E eu já não sorrio da mesma maneira).

Lau'Ra
 
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Lau'Ra
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