Entre manhãs
Entre duas manhãs de primavera
Atrás do esfregar de uma lavadeira
Composições intermitentes de realidade
Arremessadas ao ato puro de esfregar
Na boleia de um vento prescindível.
Uma primavera cava e ridícula
Adulando o momento sem pudor
Ergueu três vezes o véu opaco do seu rosto
E por três vezes regressou ao disfarce
Calcinando em passado um esforço
Tão humano quanto a solidão.
A alvura e frescura avizinhou-se de um estendal
As molas prenderam as vestes ao Sol
A lavadeira afastou-se daquele cenário
Com o Sol a existir cálido
Com o cingir prometido pelas molas
Constrangimento da matéria e do ato.
E a não mais oculta Primavera com voz maiúscula:
“Até amanhã de manhã lavadeira!”