Contos : 

a paixão é uma coisa absurda

 
Era um dia de festa e regozijo. Pessoas se amontoavam ao largo da avenida, bandeirolas na mão e sorrisos no rosto. Moças se debruçavam às janelas e ora acenavam, ora batiam palminhas. Desfilava a parada militar pela bem-sucedida campanha de guerra.

Fileiras e mais fileiras de garbosos veteranos marchavam impávidos e orgulhosos. Alguns portavam estandartes, outros flautas, trombones, pratos e bumbos, envolvendo o episódio no solene e augusto ritmo que a ocasião demandava. Traje militar de gala, com golas brancas e impecáveis e botinas engraxadas inspiravam suspiros das moças, eram música aos seus ouvidos.

E na rabeira do desfile, vinham suas conquistas: os desgraçados e feridos, os perdedores de quaisquer direitos, os vencidos e desmoralizados. A estes foram dadas vassouras, com a qual iniciavam sua carreira no novo mundo: limpando o solo de seus novos mestres. E o faziam com dificuldade, devido às correntes que os prendiam e seja lá quais dores e lamentos os dominavam. Inspiravam gargalhadas do povo que assistia mais próximo.

Das donzelas às janelas, algumas sentiam pena, pena dos pobres pássaros engaiolados com as asas partidas, nunca a gorjear novamente como o faziam em seu lar. Outras traziam o leque mais próximo ao rosto, em desgosto para com essa raça inferior, servos desafortunados e sem elegância.

E outras ainda, viam ali algo mais. E mais se debruçavam à janela, para averiguar melhor. E quanto mais se debruçavam, mais suspiravam. Talvez vissem algo de sensual nas vassouradas vigorosas com que alguns dos infelizes se punham à tarefa imposta. Mas a verdade é que assim o faziam por pura dor e fadiga.

 
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