A porta entre aberta, o vento batia as janelas
Olhei pela fresta, vi uma sala desarrumada
Ouvi um som estranho, um sussurro de uivos
como se uma matilha de lobos num choro louco
gritassem da dor do abandono, de grande solidão
o chão salpicados de folhas secas, amareladas
reviradas pelo vento, denunciava a casa abandonada
Um sentimento momentâneo percorre invasivamente
de modo abrasivo meu corpo pelo tempo corroído
Um olhar ao passado, voltar a casa da infância
Ouvir pessoas conversando, e crianças brincando
Sentir o aramo de comidinhas cozinhando no fogão
Uma melodia dedilhada ao piano pela aprendiz
Uma linda menininha com seu diadema nos cabelos
sentada na banqueta com seu vestido solto rodado
Mais parecendo uma princesa, dos contos de fada
Suas mãos ágeis, ligeiras, dedilhavam o teclado
de marfim, seu porte elegante, era uma pintura
que o tempo não apagou na lembrança que ficou
pelo tempo marcado, que só retorna no tempo
quando uma única fagulha reascende e transpassa
o relógio de um instante que volta novamente
quer retomar algo que por lá permaneceu porém,
nem o tempo esqueceu, uma viagem ao passado
Onde se encontram remotamente o ausente
do presente e o presente em busca do ausente
Fadinha de Luz
Maria de Fatima Melo (Fadinha de Luz)