Miséria humana
Gente tresmalhada que não sabe a origem dos seus medos
Miséria humana
Pobre gente que por não ter onde cair, vai caindo
Miséria humana
Humilhação em cima da mesa, por falta de uma côdea de pão
Miséria humana
Dos que não tem o que comer e vão comendo… migalhas
Miséria humana
Rostos disformes com calafrios na espinha
Miséria humana
Bombas que rebentam à porta de casa e não destroem as pedras da caçada
Miséria humana
Mãos em cima de fardos de palha, o que resta da ceifa da semana
Miséria humana
Corpos deitados numa praia deserta e o mar a sacudir o casco de um navio
Miséria humana
Escassez da terra, do céu, do mar e de além-mar
Miséria humana
Enquanto as raízes das árvores secam e os frutos caem em bocas fechadas
Miséria humana
Saber falar e não saber o que dizer a quem está perto
Miséria humana
Não saber o que é o amor e sentir a dor e o desamor
Miséria humana
Sequestro da mente para pensar em nada
Miséria humana
Todos em pé à espera que o dia comece
Miséria humana
Todos em fila indiana para não perderem o norte
Miséria humana
Dois corpos a dormir lado a lado, sem saberem um do outro
Miséria humana
Os que trazem a miséria ao colo
Miséria humana
Olhar de perto a cidade numa noite de verão e saber que há gente a cogitar em vão
Miséria humana
Os que apontam o dedo indicador e não tocam em lugar nenhum
…Miseráveis os que sem saber onde começaram, querem sentir-se esvair em algum lugar…
24 Abril 2012
Maria Al-Mar
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