Lá fora chovendo canivete,
o fusquinha todo fechado,
com o vidro já embaçado,
e uma goteira no meu topete.
Mais de duas horas de viagem,
percorrendo aquela estrada.
Abafado, sequer uma aragem,
ao meu lado Jurema ia calada.
Estranhava aquela atitude,
a mina estava até ofegante.
Pois se sempre falava amiúde,
não se calava por um instante.
O fusquinha parecia lacrado,
ambiente não se renovava,
sem ter ar condicionado,
o vento de fora não entrava.
Perto da estrada do Moinho,
Jurema parecia assaz agoniada,
mas levantou meio de ladinho,
depois pareceu bem mais aliviada.
O que se seguiu foi aterrador,
aumentou demais a agonia,
não conseguia suportar o odor
feijão e brócolis era o que fedia.
Olhei feio para minha consorte,
reclamei – acho que tinha razão:
“- Jurema! Não há quem suporte
o cheiro bravo desse seu “punzão” “
“- Sarcô *, deixa de ser implicante !”
respondeu a minha cara metade.
Desde aquele último restaurante.
eu já estava com baita vontade.”
“ - Só queria quebrar a calmaria,
achei que estava muito calado.
Sequer podia imagina que você queria,
era ficar num silencio perfumado!”
(*) – Sarcô, com chapeuzinho no “o” é o nome carinhoso pelo qual a Jurema me trata. Só não gosto quando ela fica brava e grita: “ Sarcô! Seu cocô !!!” ... e vai por ai afora.....
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.