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Poemas : 

À merda da boca, essa cloaca (Aviso aos navegantes: mesmo texto colocado no fórum)

 
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À merda da boca, essa cloaca






Se no lugar dos ouvidos houvesse pênis ou vulvas,
Talvez fôssemos mudos ou virgens.

A boca, pelo menos, teria uma chance
De melhor alimentar esse corpo.

Iríamos ouvir em gozo e plena promiscuidade, tudo.
Seríamos sábios ou surdos?
Mais do que uma simples escolha, uma tentação.

Mas a boca, forte em seus atávicos caninos,
Iria grunhir e babar até às últimas consequências,
No desespero de nos tornar, à força de melindres,
Os novos celibatários da audição.

Seríamos estéreis? Impotentes? Não duvido.
Mas, de algum modo, penso, falaríamos menos.

Imagine gozar só por ouvir um tratado filosófico.
Ouvir um artigo científico e ter orgasmos múltiplos.
Ouvir as regras sociais de boa conduta e civilidade e molhar a calcinha?

Ou alguém que se preza muito, dizendo de mansinho,
Ao pé do ouvido entumecido, hirto de veias injetadas...
Ou, se for vulva, toda oceano a lavar as coxas,
Sim, ouvindo aquelas palavras: Eu te amo.

Sim, tudo isso em plena ereção e gozo auditivo.
E se brochar, basta tirar o excesso de cera,
Uma lavagem no otorrino e estaria resolvido a lua de mel.

Quem teria a coragem de abrir a boca,
Por um minuto sequer,
E perder o som, o gorjeio de um simples pardal
Ou o zumbido quente da abelha fazendo mel?

Quem se arriscaria a falar num dia de chuva
Ou, naquele instante, o farfalhar das folhas lambidas pelo vento?
Os raios escandalizando em pornografia cóclea,
Riscando o céu a noite, não para enfeitar trovões,
Embora desenhe o coito,
Mas para montar o palco aos orgasmos múltiplos.


O som dos passos da pessoa amada que se aproxima,
Até o ápice das palavras, arfando, naquela hora:
Pare, pare, mais um passo e morro de prazer,
Tire os saltos, vista uma meia e ande bem devagar.
Sim, o gozo com a amante tem que ser juntos, no mesmo caminhar.




MF.


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Srimilton
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Enviado por Tópico
miriade
Publicado: 03/05/2013 23:53  Atualizado: 04/05/2013 05:17
Colaborador
Usuário desde: 28/01/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 2171
 Re: À merda da boca, essa cloaca (Aviso aos navegantes: m...
Milton, li, e só mergulhei na essência do poema.A meu ver, há pensamentos que exalam agradáveis aromas,palavras benditas, outros pensamentos defecam pelos dedos mal(ditas) palavras, e agora parafraseando Mário Tupinambá, merdas cagadas não voltam à boca, rsrsr.
Mas o seu belo poema livre como o idioma dos ventos, murmurou em meu ponto G, que se encontra bem aqui em meus ouvidos.

Carinho, Lu


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/05/2013 14:20  Atualizado: 04/05/2013 14:20
 Re: À merda da boca, essa cloaca (Aviso aos navegantes: m...
Milton, lá vens tu agitar de novo os olhares mais pudibundos. fui longe a imaginar, e quase tive um orgasmo, quase. criativo sempre. parabéns lusos.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 05/05/2013 00:19  Atualizado: 05/05/2013 00:19
 Re: À merda da boca, essa cloaca (Aviso aos navegantes: m...
Eu li novamente este texto hj e fiquei rindo imaginando se fosse possível mesmo.Quanta imaginação , cara!Ao mesmo tempo que é engraçado, tem muita profundidade quando entramos na essência do texto.

bj

Angela


Enviado por Tópico
Soaroir
Publicado: 10/05/2013 16:46  Atualizado: 10/05/2013 16:46
Participativo
Usuário desde: 21/12/2006
Localidade: SP
Mensagens: 46
 Re: À merda da boca, essa cloaca (Aviso aos navegantes: m...
De uma prosa gostosa ninguém escapa. Abrs e sucesso sempre!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/05/2013 17:28  Atualizado: 10/05/2013 17:28
 Re: À merda da boca, essa cloaca (Aviso aos navegantes: m...
"Se no lugar dos ouvidos houvesse pênis ou vulvas, Talvez fôssemos mudos ou virgens."
(e o que importa houvesse quaisquer anomalias, se;)
"...o gozo com a amante tem que ser juntos, no mesmo caminhar."

aquele abraço caRIOca, irmão.


Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 28/08/2013 15:14  Atualizado: 28/08/2013 15:14
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: À merda da boca, essa cloaca (Aviso aos navegantes: m...
Boa tarde Milton, é da nossa natureza idealizar o inusitado, e quando este se faz impossível, as ideias são mais profusas ainda, um grande abraço, MJ.

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