.
Gê Muniz
EM PERFEITO DESEQUILÍBRIO
não basta escrever
poemas.
é mais preciso não
explicá-los.
ainda mais conciso
é queimá-los num anátema
sem vocábulos,
acoitar
em sangue ralo,
ao mais interior dos
coágulos,
essa cinza passional,
farinácea
e obscura
da ossatura
dos seus dilemas.
não basta escrever
poemas.
é premente
demência mansa,
racional
para, cordialmente,
negá-los
como se nega,
ao pico do dia,
a luz macia
da lua negra
que nos asfixia
belamente
com sua contra-chama
perdida,
impávida, arredia...
(Gê Muniz)