Já se aventuraram num passeio à cidade dos mortos?
Completamente alucinados andam os vivos, com olhares cabisbaixos a tentar descobrir na terra, a mesma terra, que irá receber um dia, algum resto de vida que lhes faça reviver os momentos mortos - aqueles que mataram em vida.
Querem agora resgatar todos eles, como forma de se redimirem dos pecados todos que cometeram.
Nas mãos levam flores de todas as cores. Será para conseguirem renascer mais primaveras, e com elas, as forças que baixaram, sem mesmo lhes ser perguntado se queriam terminar neste amontoado de lágrimas que vão irrigando, pedacinho a pedacinho, a terra. As árvores, algumas estrondosas, com os seus ramos gigantes tentam parar o vento.
As lágrimas caem como gotículas de orvalho pela manhã. São leves e brandas umas, grossas e violentas outras que correm como levadas sulcando a vermelha face de quem não pregou olho para velar os mortos. Esta atmosfera que cobre a cidade dos moribundos, tem sempre algo de misterioso a rondar os corpos que vão caminhando em silêncio. Ouvem-se as pegadas de uns, e alguns rumores a tentar saltar fora da cidade onde os vivos respiram ainda sob esta atmosfera turva. O cheiro a terra, o cheiro a erva, o cheiro de todas as flores fazem-me pensar no que virá depois, quando já não houver espaço para tantas vidas a cair por terra.
Dakini Março 2013
Maria Al-Mar
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