Um senhor professor ministra sua aula com um toque de sono.Seu terno amarronzado, com um estilo clichê americano, aumentava a sensação de rispidez.
Os alunos, que de tempos em tempos deixam o peso da cabeça falar mais alto que a matéria de filosofia, cochilam.
Próximo à janela, um aluno esquiva sua atenção ao nada: olhava indiretamente as cabeças sobre os ombros que passam, e mais distante, a quadra quase abandonada da escola. Não sente nada. Não ouve nada. Não ouve, muito menos, o tal professor.
De forma inesperada e assustadora, um dos dois ventiladores que ringiram o semestre todo, se solta de cabos de energia e parafusos, e segue direto e certeiro no rumo do tal professor, que é inteiramente degolado por uma das hélices.
Morre, então, um dos cabrestos dos alunos sonolentos, que, nesta altura, sono já não tinham mais.
Como carniceiros, uns alunos olham e tocam o corpo e a cabeça ensanguentados. O aluno que sentara próximo à janela, sem medos ou receios, se aproxima e enfia a mão, pelo pescoço, na cabeça do (ex,agora) professor e retira uma pedra uniforme e redonda, do tamanho de uma moeda. Mesmo suja de sangue, ele -o aluno- a toma, como um comprimido, e num flash, volta a ver, consciente agora, a velha quadra da escola e a ouvir a velha e rouca voz do professor de terno amarronzado.