Para me lembrar o quão importante é levantar-me de manhã com vontade de sair para a rua, tento, na medida do possível, ver-me ao espelho de forma clara. Para isso, terei que acordar também claramente. Coloco os pés no chão, um de cada vez, levanto também um dos braços, de cada vez, e só depois abro os olhos, também um de cada vez. Felizmente que aprendi a piscar os olhos, caso contrário teria que me servir de uma das mãos, para também à vez, tapar um olho de cada vez.
Cada um na sua vez! Assim nos vamos encontrando a cada dia que começa. Saio para a rua e também vejo uma pessoa de cada vez a entrar no café, e logo depois na paragem do autocarro e em fila única, entra nele, um de cada vez. Até os carros na avenida se deslocam em fila única, e um de cada vez.
Sempre me pergunto porque também não nos sucedem os dias, um de cada vez.
À noite, no céu, vejo as estrelas todas juntas. Não consigo ver uma de cada vez. Uma noite destas até tentei, mas elas estão sempre tão prontas a iluminar a noite, que para elas não existe vez. Existe sim, uma sequência uniforme de formas únicas a esperar que a noite chegue, para saírem de vez desse estado claramente animalesco, que nos leva a todos, a procurar nos dias a nossa vez para sermos alguém, ou então, ninguém por não termos vez.
Fev/13
Maria Al-Mar
Enquanto Mulher
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