Amigo Sertório
Um centurião romano ouvia o seu general
Criar estratégias de guerra
Para conquistar aquela terra,
Que cheirava a animal…
E perguntava-se: porquê!
“Se todos quantos vão lá, morrem?”
Ignorava ele, na rectidão dos que sofrem
As chagas que ninguém vê…
Um dia perdido, de doideira,
Calcorreou os bosques e os matos
E saiu do acampamento dos ingratos
Para o colo da asneira:
O inimigo!
Foi capturado pelos caverneiros,
Levado pelos pés paneleiros
Para um abrigo,
Ia desarmado e não reagiu;
Não havia fome esse dia!
Fugir, ele não podia
E nunca mais fugiu…
Passou de preso a rejeitado,
De rejeitado, a animal de mato
Que caça o seu próprio prato.
De estranho passou a entranhado…
Apaixonou-se pela lusitana
Casou-se com ela
Por ser animal e tão bela,
Mais natural e menos mundana…
Por conhecer bem Roma,
Tornou-se amigo do chefe do bando.
Era leal nunca enganando.
Era um adido que se soma.
Olhou para a sua nova gente
Achou que podia dar algo para a acção
Que não tinham organização,
Só alma valente…
Traiu a sua terra, comendo o seu antepassado
Que carne humana vicia!
Mas todo o dia,
Nada mais havia para ser caçado.
E romano era carne fresca, sem canhão
E saciava as misérias,
Dava ao estômago umas férias
E aumentava a erecção!!!
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.