Ele fitou um ponto a sua frente; ali estava a porta de saída para outra vida. Tocou o metal frio em forma de ‘L’ com carinho sem entender como demorara em tomar aquela atitude. Em parte entendia que era fácil se acostumar com prisões e passar o tempo conferindo cicatrizes. Olhou o quadrado em volta; o sofá vermelho vinho com suas almofadas brancas, o vaso com flores azuis, as cortinas de brocado branco. Olhou o teto com o lustre de seis lâmpadas que tantas vezes ofuscaram seus olhos em dias introspectivos. Doía se despedir de tudo, e até mesmo do cantarolar esganiçado que soava da cozinha, mas precisava cortar os vínculos, tirar o peso das costas e para isso só precisava girar o tambor e ouvir o ‘click’. Num átimo que surpreendeu ele próprio girou o metal frio e abriu a porta para a liberdade. Nunca foi tão difícil girar uma maçaneta. Nunca foi tão bom sentir o vento soprando de novo.
Aquela mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.