E quando olhei pro céu me deu vontade
De morder as estrelas que ainda dormiam em meu quintal
De intensa luz pareciam com a mulher amada
Que dormia calma em minha cama
No meu quintal, plantava estrelas e colhia o brilho
No meu quintal, plantava vidas e colhia crianças
E do meu quintal vi que a felicidade era invenção dos homens
E que ela morava em todos os quintais do mundo
Todo começo é difícil e está sempre por perto
E todo fim é certo para aquele que chegou
Não existe poro certo e só um ponto é marca
Onde acreditamos ser a chegada: o fim
E na hora da chamada, o Senhor com voz firme
Chamará por nosso nome e nossa história
É quando a estrela que mordemos no quintal
Irá dizer cantando o tamanho de toda a glória
Ontem acordei mais tarde e não brilhei tanto, não havia estrela
Não tinha mais aquela manhã dormindo no meu quintal
Acordei o sol que se pós a correr e já não tinham estrelas
Não sei se de mim ou de outros astros, estrelas mordidas se escondiam
E todo o quintal se sentiu vazio e só: saudade das estrelas
Hoje não sei se vou dormir, vou seguir minha estrada, sonhando sim
Mordendo estrelas em meu quintal
Abraçando astros celestiais e tímidos
Amando a verdade dos solitários,
Me sentindo no meio de todos um mortal
José Veríssimo
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