A PRAÇA DOS MEUS SONHOS
Na praça dos meus sonhos tem um coreto e três degraus
Tem um pássaro apaixonado que canta o dia inteiro
Tem uma esperança que sabia chamar de amanhã
Tem um casal tocando um violão e uma vida desafinados
Tem uma professora que mora por perto e meninas bonitas
Tem uma farmácia e um hotel e um boteco, uma carroça de burros
Uma barbearia de dois irmãos e uma relojoaria e um grupo escolar
Tem o doutor da família e a rua dos meus sonhos e casa de tecidos
Tem os trilhos cortando a praça e os sonhos e a fé e atrapalhando o cego
Tem um leilão de gado e tem um baile e um carnaval e um sorvete gelado
Tem uma procissão e um santo carregado e uma mãe que choram encenados
Tem um criador de gado e vários bancos do povo onde num trabalhei bem cedo
Tem uma avenida longa, onde nunca se ouve o grito do povo
Tem um sonho longo e uma caixa d’água vazando no final da ponte
Sempre tem um amor por perto de vários e um candidato a nada
Não tem um cinema abandonado nem um vagabundo e inocente
Tem um compadre suado abençoando um afilhado
Tem uma mulher bonita e irada de pano na cabeça
Tem uma fonte iluminando sonhos e peixes dourados
E um mecânico solidário de bicicletas e amores
Tem uma rua a pique começando lá pro morro
Tem uma saída pra zona outra pra cadeia
Outra pros milagres e outra pro hospital
Tem um violeiro bêbado vindo da zona todo amassado
Tem uma fé inabalável fincada na porta da igreja
Tem um açougue virtual entre a oficina e o bar
Tem dois amigos numa admiração louca
Tem as marcas de um cantador carro de bois
Tem os restos de uma tropa de burros marcando a história
Um terno passado a ferro de brasa e uma gravata engomada
Tem um boi marcado a ferro quente pra não fugir do pasto
Tão quente é a saudade desse lugar onde está a minha praça
José Veríssimo