Deitar...
E não mais acordar!
Sentir meu corpo envolver
A fúnebre rigidez da morte,
Sim!
Tornar-me cadáver,
Morrer!
Não mais sofrer!
Não mais levantar!
Não mais contemplar
O embotado ocaso
Na rigidez cadavérica
Do cianótico quarto...
Simplesmente dormir...
Esquecer as coisas da vida...
Esquecer o quanto amei...
O que sofri!
O que chorei!
Viver?!
Não mais!
Morrer?!
Sim!
Ser degustado pelos vermes!
Alimentá-los à exaustão!
Deixá-los roer as frias carnes
Do meu corpo,
Sim!...Ser devorado como um cão!
Ah! Que gozo feliz!
Que torpor!
Que leveza!
Leva-me já, oh morte,
Vem, oh negra companheira!
Não me abandone à sorte,
Que encastoada em caduceus
A serpente da tristeza,
Já empeçonha os lábios meus!
Deus,
Onde estás?!
Oh Deus, onde estão os anjos?!
Dizei-me agora,
Onde estão os anjos meus?!
Será que estão sentindo
O que eu vivi na mocidade?!
Ou será que estão sofrendo
Chorando, enfim, na eternidade?!
Eram tantos os sonhos,
Em mim, desencontrados!
E inda mais os pesadelos
Dentro de mim, encarcerados!
Na desvairada lembrança minha,
Não sei se vivo na curva escura
Da tênue linha
Que separa da sanidade a vil loucura!
E as lágrimas onde estão?!
Onde estão às lágrimas derramadas
Pelos poucos amigos?!
E talvez uma, ou duas, da namorada...
Daquela que tanto amei?!
Onde as lágrimas estão?!
Será se foram por outras sufocadas?!
Ou será se foram encravadas
Com os cravos sobre a tampa do caixão?!
Só o murmúrio das folhas murchas,
Despetalada viração,
É que respondem a mim:
- Oh desencarnada solidão!
Porém quando meu corpo
Descer ao fúnebre jazigo!
Ao cerne escuro da mortuária capela!
Ao aconchego da última morada!
Que ela, a primavera,
Seja de mim inda assim!
Morrer?!
Sim!
Viver?!
Não mais!
Ver meu corpo descorado...
Ver meu sangue esvaído pelo chão!
Sentir o cálido beijo da morte
Tocar-me a fronte com paixão!
Dormir,
Para sempre,
Dormir...
Não mais acordar...
Morrer?!
Sim!
Por que não?!
(tanatus – 20/04/13)