" ... emerge fugaz das entranhas abissais,
galgando outra vez a borda do universo ..."
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- metrô -
manhã de março, saindo da estação Santana,
com destino à Parada Inglesa
depois de centena de metros
deixando a luminosa superfície
como à procura de um abrigo quente,
estrondoso desce às entranhas do chão
entrando no manto protegido do vento.
não teme as catacumbas
percorre jugulares da terra
caminha para frente
como um cão perseguindo raposas
nas profundezas dos túneis escuros
passagem inexorável rompendo obstáculos
junto com ele no pacato subterrâneo
alegres jovens rumo à universidade
entre as matronas de cabelos cinzentos
operários sorridentes com moedas contadas
soldados obedientes olhando ao redor
anciões suando de medo segurando rosários
quatro quilômetros e duzentos metros
um bêbado descuidadamente deitado
acorda indiferente à estação passada
vento bate de frente com notas musicais
quando deixa seguro o abrigo quente
emerge fugaz das entranhas abissais
galgando outra vez a borda do universo
marcando indeléveis na terra suas iniciais.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."