Olho o dia em volta, está lá tudo, como ontem. Desde a manhã nebulosa encimada por nuvens carrancudas, até ao sol envergonhado que me espreita sem me ofuscar. Olho o infinito naquela linha indistinta sem maré para a medir mas invento-a nos telhados que me tapam a vista. Anteolhos irreais numa presunção interpretativa. Os sons indistintos que me chegam instigam a tristeza a fazer ninho, aconchega-se à melancolia que me trava a garganta e me depura o pâncreas temperado pelo tinto de véspera. Um cigarro taciturno acolita-me os resmungos de mais um dia rugoso como os bolsos onde as mãos se afagam na tentativa vã de inverter o termómetro pelo afagar das falanges secas.
Olho o dia em volta de novo e pergunto-me se o verei de novo amanhã, assim quezilento e resmungão. E se não o vir, será que ele me sente a falta?