Olhando à tarde que caía sonolenta
Percebi-te, de repente, toda nela...
Percebi-te, assim, passando desalenta
Qual o bruxuleio de uma vela...
Sem saber, conheci-te triste:
- Toda a tua dor à tarde revelavas...
E foi assim primeira vez que eu vi-te,
E nem bem-te-vi, já passavas!
Percebi em ti solidão à beça:
- Calada amargura na leveza do andar...
Passavas por mim sem a pressa
Das águas que corriam para o mar...
Vi num passarinho que cantavas:
- No teu cantar conheci um bem-te-vi...
Percebi que nele gorjeavas
No tênue da tarde, um inexistir...
A tarde passava vagarosa...
No chão eu percebi que pétalas caíam
De uma roseira, cândidas rosas,
Que tuas mãos tanto colhiam...
É assim como quem sonha
Que eu te vejo passar no pensamento:
- Esvoaçando como ave tristonha
Que nem bem-te-vi com o vento...
(® tanatus – 16/04/2013)