Me espere um pouco
Que chego já.
Do que eu mais célere
Quem é no passo?
Somos todos irmãos!
Me espere um pouco;
Só eu que falto
Chegar no ponto,
Irmão do asfalto.
Somos todos irmãos!
Me espere um pouco
Que chego em riste.
Será que existe
Quem tem mais passo?
Somos todos irmãos!
Me espere um pouco,
Só eu que falto.
Será que existe
Alguém mais rápido,
(Somos todos irmãos!)
Menos incauto,
Singrando os autos,
Irmão do passo
Com mais compasso?
Somos todos irmãos!
Me espere mais;
Passante sou
Também da pressa,
Quem vai depressa
(Somos todos irmãos!)
De lanche e pasta
Sem fé, desejo,
Minguado tejo
Correndo só
(Somos todos irmãos!)
Por nós, cabrestos
No passo lesto,
Pela cidade:
Palimpsesto.
Somos todos irmãos!
Me espere um pouco;
Passante sou
Também do medo
Do denso breu.
Somos todos irmãos!
Um pouco mais
Me espere, amigo.
Deveras corro
Tão só contigo,
(Somos todos irmãos!)
Nós dois, contíguos,
Passo após passo,
Irmão sem paço,
Sem mãe, regaço.
Somos todos irmãos!
Me esperem todos:
Moídos rostos,
Puídos, rotos,
De si cansados.
Somos todos irmãos!
Me esperem mais,
Vou já chegando,
Entanto vem,
Passo ante passo
(Somos todos irmãos?)
(Me esperam todos?)
Quiçá correndo,
Quiçá sem fôlego,
Mais um de pasta.
(Somos todos irmãos?)
(Me esperam todos?)
Tomar-me vai
Lugar – nem meu,
Nem teu: de breu!
Somos mesmo irmãos?
Assim que somos
Irmãos do acaso,
Do meu atraso,
Do lesto passo.
Somos todos irmãos!
Assim que somos
Caim e Abel,
Perdidos passos,
Irmãos sem pai.
Somos todos irmãos!
Espero todos
No breu do mundo,
Mas quem me chega?
Só vejo a sombra
(Somos todos irmãos?)
De um outro irmão,
Que só vagueia,
Expropriado,
Enigmático,
(Somos todos irmãos?)
Sem passo ou rumo,
Irmão do breu,
Sem um lugar
No nosso mundo.
Somos irmãos.