Muros de amor escorridos pelo chão
Pelo sim, pelo não, pelo irmão.
Bocas que não seguram palavras
Corações doídos, paixões de vidros.
Se for ilusão o que não é razão, importa não.
Aços e filhos cortam iguais, amam iguais.
Faca cega que não corta é filho distante
Filho distante corta como faca amolada
Filho que vem de trem, nas malas frias.
E fica com a gente só um pouco e se vai
Procurando espaço, como espermas loucos.
Fecundando na vida a própria vida da fêmea
O amor não tem sexo, não tem pressa, é exato.
Sem lados, sem meio, sem fim, simples infinito.
Amor de poucos dados, de nenhum lado, liso e bravo.
Esfrega, apega, afaga, pega fogo e não se queima.
Fogão sem lenha, mar sem água, tempo sem ar.
E o presente sempre amanhã, adia não, que pare o dia.
Não dá ir de carona com a saudade, nem ficar pra trás.
Tempo de palavras frias, de longas noites, só mente alegria.
Vou criar seu filho rodando o mundo, de barco, de arco, de ar.
Filhos criados ao vento, no cheiro de brisa, são mais filhos.
Pais de todos os tempos, de todos os ventos, são mais pais.
Pais e filhos numa cria bendita, no amor mais sublime, no amor a mais.
José Veríssimo