Este chão duro, gretado pelas amarguras
da vida, sopradas por vendavais
de estivais desencontros,
olha-me indiferente, silencioso,
recusando-me o sorriso que lhe ofereço!
Ai, este chão que pisamos displicentemente,
que nos oferece generosamente alimento,
Sofre a dor e a desdita da incompreensão
do tempo que o avassala,
aceita calado, as agruras e investidas da natureza
que lhes sulca impiedosamente o corpo!
Chão sofrido, verdejante ou ressequido,
árido, fértil ou florido,
que carinhosamente nos acolhe
pela eternidade, silenciosamente!
Este chão que se submete
às nossas vontades,
ignorado e espezinhado,
ingloriamente!
Este meu chão, chão da minha existência
onde me aconchego,
na ausência de asas, para voar.
José Carlos Moutinho